PRÓLOGO

Você gosta de jogos?
Eles adoram.
Especialmente se colocam fortunas em xeque.

Quem são Eles?
Você já os conhece.

Estão nas principais revistas, meio sociais e cargos importantes. São o chefe que ninguém conhece, são o mito das maiores empresas, das maiores fortunas. Mas, eles estão velhos. Breve serão substituídos. Por quem? PELOS MELHORES. Eis que os melhores sempre o foram. Eles são os alunos de notas mais altas na escola, os medalhistas de ouro nos campeonatos seja do que for, os que nunca erram, nunca são vistos em maus lençóis. Aqueles que todos nós queremos ser: Os Perfeitos.

Contudo, tudo que é misterioso penetra fundo em nossos olhos, instigam nossa alma. Está na essência do ser humano querer conhecer tudo aquilo que ainda não domina. Mesmo que isso custe caro.

E, afinal, qual o preço da perfeição? Penetre fundo nas almas das pessoas que a maioria buscar ser e conheça realmente o lado mal de ser perfeito.


PARTE I
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02
03
04
05
06
07
08
09

PARTE II

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parte II
02


A raiva lhe subia os ossos, usando seu sangue como escada. Alastrava-se por todo seu corpo enquanto ela olhava para o para-brisa do carro de Matthew sem ver nada à sua frente. - Quem aquele imbecil pensa que é?! Meu pai?! Ela o observou então. - E você, idiota, de que lado está afinal? Concordar com essa idéia absurda! Matt deu de ombros à ela. - Você mereceu.

E tomando aquilo como um belo cruzado de direita no rosto, Mabelly se calou. Ela sabia que realmente merecia, mas não esperava ser castigada justo pelas duas pessoas que mais gostava naquele lugar. Quem pediu para eles mentirem por ela? Fora seu último pensamento antes de se conformar. Ele precisava mesmo de um tempo a sós com os seus pensamentos.

Então ela colocou seus olhos no rapaz. Após tanto tempo observando as feições de Matthew, ela sabia perfeitamente que ele estava de ressaca, e tentando esconder. - Beba bastante água; disse minutos depois. Ele imperstigou-se como ela o conhecia, mas tudo que fez foi dar de ombros novamente. - Cala a boca, Mabelly... E ela atendeu ao seu delicado pedido.

Chegaram finalmente ao tal café, que na verdade ficava a meia hora da mansão e não era nada luxuoso como esperaria Sebastian. Eles costumavam tomar café ali sempre que queria ficar à sós. Matt desceu e abriu a porta para Mabelly, depois ofereceu seu braço a ela.

Adentraram. A Senhora dona do local, cujo nome Mabelly jamais perguntou, sorriu aos dois. Ela sabia que nos pensamentos de todos daquele lugar, ela e Matthew eram bem mais que amigos, talvez até casados, mas nenhum dos dois fazia muita questão de desmentir aquilo. Desde que fossem deixados em paz, que aquele pessoal desconhecido pensasse o que quisesse.

Sentaram na mesa de costume, que ficava no canto mais afastado de todos. Matt sorriu a senhora, com aqueles seus dentes faiscantes e demasiado brancos. Era assim que ele pedia o de sempre. - Você não precisa seduzi-lá para pedir bolinhos e café expresso; Ele voltou seu olhar dourado à ela e sorriu do mesmo modo: - Sente-se seduzida? Mabelly o olhou com desprezo e disse: - Nem um pouco... Ele parou de sorrir, parecia decepcionado: - Então não preciso me preocupar; a prepotência reinou em sua voz.

Parte II

01


Matthew acordou apalpando a cama vazia ao seu lado ainda de olhos fechados. Não sabia bem o porquê, só sabia que sempre tinha esperanças de encontrá-la ali no dia seguinte. Assim como sabia que não a encontraria.

Ele puxou o travesseiro para mais perto do seu rosto. Toda a cama tinha o cheiro dela impregnado. Era tão agradável que ele só levantou por pura obrigação. Seus pés descalços tocaram o chão gélido e isso lhe causou um arrepio. E também desencadeou seu maior medo no momento: uma dor de cabeça insuportável lhe invadiu e ele chutou o ar quando levantou. Maldito uísque da noite passada.

Caminhou preguiçosamente até o banheiro e mirou seu rosto no espelho. A barba por fazer e os olhos avermelhados eram um péssimo sinal. Não poderia deixar que ninguém o visse daquela forma, então tratou logo de tirar a calça de seda branca que havia lhe servido como pijama naquela noite e adentrou para um banho gelado.

Após usar colírio, fazer a barba, escovar os dentes e o rosto já sem o inchado comum do pós-sono, mirou-se no espelho quase orgulhoso. Tratou logo de montar uma máscara que não demonstrava que a dor em sua cabeça estava para matá-lo. Vestiu o uniforme da Royal High School, com suas cores em tons de azul escuro, cinza-claro e sua coruja que mostrava-se sempre atenta no peito dos seus alunos, depois procurou o celular sobre a cama.

Discou o número de Mabelly, que atendeu ao primeiro toque.
- Toma café comigo no lugar de sempre, sim?
- Bom dia pra você também, Matt. E porque ligar? Basta bater aqui do lado...
- É, tanto faz. Esteja lá agora.

Desligou sem mais demora. Não estava muito afim de ouvir vozes, mesmo a de Mabelly que era suave e baixa parecia gritar até mesmo quando suspirava. Ele precisava urgente de um café quando notou o mal humor em níveis altos demais no seu próprio olhar pelo grande espelho da porta. Pegou sua mochila, colocou os livros lá dentro e saiu.

Passou direto pelos corredores, descendo com rapidez as escadarias. Já ia passar direto rumo à porta quando viu uma conhecida cascata de cabelos negros e ombros largos frente à frente. Sebastian sussurava alguma coisa enquanto deixava Mabelly arrumar o parte de trás de sua gola. Um fogo subiu as veias de Matthew sem explicação, percorrendo todo seu corpo. Ele jamais se acostumaria com aquela idéia imbecil de Mabelly noiva de Sebastian. Se alguém ali merecia ser o noivo dela, era o mesmo alguém que Matthew observava todas as manhãs no espelho.

Porquê ele?

De certo Sebastian era o melhor dos meninos dali (irônia menosprezar aquilo visto que eles eram os melhores em tudo), e Mabelly era a melhor dentre as meninas, e fora esse o argumento utilizado por Eles quando anunciaram os noivados. Mas, mesmo assim... Matthew acreditava ser o único que pudesse ser perfeito para ela. A maior prova disso era como ela o tratava e como os dois faziam uma costumeira excelente equipe em competições, como ele podia adivinhar exatamente o que ela faria ou o que diria e mesmo como ela parecia encaixar-se perfeitamente em seu abraço.

Matthew e Mabelly eram o casal perfeito para si mesmos.
Mas, não era assim que Eles pensavam.

Controlando aquele fogo dentro de si, o rapaz caminhou até lá. Pegou exatamente a parte da conversa que lhe interessava. - Ah, Matt! Venha aqui e me ajude a convencer o Sebastian de que estou em plenas condições de ir à escola. Sebastian olhou o rapaz, deu-lhe um aceno e arqueou uma sobrancelha, no seu melhor jeito de dizer "ela não sabe com quem está falando?" e continuou seu discurso: - Ontem você estava péssima, Mabelly. Realmente sem condições de sair para lugar algum hoje. Só estou preocupado com você. Ele disse, pegando a mão dela e beijando seu dorso.

Os três estavam completamente cientes que o rapaz estava, na verdade, lhe dizendo que estava de castigo pelo que havia feito no dia anterior, e claro, continuando a farça para que ninguém que circulava pela sala desconfiasse de nada, mas, Mabelly realmente não iria ceder. Uma coisa era ser seu noivo, outra era querer dar uma de seu pai. - Sebastian, eu estou ótima, olhe para mim... Não pareço ótima, Matt?

O rapaz - que permaneceu calado pois ainda estava irritadiço com a saida da noite passada de Mabelly e com aquela dor de cabeça penetrante - finalmente disse algo: - Acho que o Sebastian está certo, Mabelly. Você ainda parece um tanto pálida... disse pegando o queixo dela e lhe fazendo olhar nos seus olhos.

Ela lançou um olhar indignado para Matthew, desvencilhando-se do toque dele. De todas as pessoas ali,  ele era o único de quem ela esperava algum argumento à seu favor, ele tinha completa consciência disso. Mas, o que ele podia fazer? Ele merecia.

- Mas, Sebastian, conheço um excelente café aqui próximo que faria muito bem a ela. Sebastian observou o rapaz sem entender sua mudança de opinião acerca do castigo de Mabelly. - Não tenho tempo de levá-la até lá antes do horário da Academia. Preciso resolver algumas coisas... Observando agora os olhos contentes de Mabelly, Matthew completou: - Ah, eu não vejo problema em levá-la até lá eu mesmo. Piscou um dos olhos para ela e sorriu, completando: - E depois trazê-la novamente para casa. Observou os olhos de Sebastian agora, que ponderava.

- Bem, sendo assim... Ele disse, ainda indeciso, mas olhando um relógio e percebendo que estava na hora de ir. - A traga em meia hora, sim Matthew? E Mabelly, minha querida, fique deitada... Fará muito bem a você ficar sozinha com seus pensamentos. E dito isso, ele saiu elegantemente pela porta.

Matthew o observou até sua saída, depois sentiu as mãos de Mabelly em seu braço e escutou seu sussurro: - Tire-me daqui agora. Ele sorriu a ela e caminhou até que também pudessem encontrar a porta. Assim que viu as luzes fortes do dia que amanhecia, a dor de cabeça aumentou em torrente. Aquele seria um longo dia, pelo visto, pensou antes de colocar os óculos escuros, abrir a porta para Mabelly e adentrar ao carro.

Se permitem a esta narradora um comentário: Você nem sabe o quanto, Matthew querido.
09


Ela não pode sentir seus joelhos quando o viu terminar o último degrau. Deixou-os encontrar o chão, as mãos levou ao rosto. O que diabos ela havia feito? Fugir, mentir, roubar, trair e magoar... Nada daquilo parecia nem um pouco com o que havia montado para si durante toda a vida. Estava tudo muito errado e ela sentia muita vergonha de si mesma.

Mas, já era tarde e ela precisaria acordar cedo naquele dia. "Hora de dormir, ou pelo menos tentar.", ela disse para si mesma e levantou-se com dificuldade. Subiu as escadas vagarosamente em direção seu quarto. Seus dedos se perdiam por cima da madeira polida do corre-mão. Passou direto pela porta que deveria entrar. Retirou os saltos na porta do quarto ao lado. Abriu-a, deixando apenas uma pequena fresta de luz entrar. Tudo estava em silêncio, mas ela sabia que ele estava acordado. Caminhou até a cama e sentou-se ali, com todo cuidado.

- O que você quer? Uma voz masculina parecia acordada demais. Ele também não havia dormido até agora, pelo visto. - Posso dormir aqui? Ela disse, sentindo o gosto amargo de engolir o próprio orgulho e a humilhação que era para ela pedir aquilo. - Não. Ele respondeu ríspido e frio. Lágrimas quentes fizeram a garganta da menina doer enquanto ela as engolia. Ela jamais choraria perto dele. Quando já ia levantar para se retirar, sentiu seu pulso sendo segurado com muita força, depois os braços dele a puxaram para a cama, deitando-a ao seu lado.

Pela pequena luz da porta, Mabelly pode ver os olhos dourados de Matthew faiscarem. Ele tinha milhares de dúvidas e ela precisaria responder a todas elas, sabia, mas estava cansada demais para isso. Só então ela sentiu o cheiro forte de álcool que ele exalava. Levou seus dedos aos cabelos dele e os acariciou. Ele fechou os olhos, virou-se para o outro lado, puxando os braços dela para lhe envolverem a cintura, segurando-os muito firme ali. - Você é uma imbecil, Belly; disse com a voz grogue de sono. Ela deu um sorriso para os cabelos dele e respondeu: - Também te amo, Matt. E ele então dormiu.

Só minutos depois ela conseguiu dormir também. A cama de Matthew, seu melhor amigo, era o único lugar onde ela realmente podia se sentir protegida agora, ou pelo menos sentir-se novamente a mesma.

Se bem que ela nunca mais o seria.
08
 
 
Sebastian escutou um barulho de carro, depois de salto contra o cascalho e só então viu a porta se abrir. Mabelly apareceu completamente despenteada e com o vestido amassado, parecia muito desconfiada. Parecia cansada, também. Ele não havia dormido até então. Quando a viu atravessar silenciosamente a porta da sala em direção à escadaria, levantou-se e chamou seu nome baixo, mas com seu tom mais carrasco.

Num sobresalto, ela levou as mãos ao coração. Depois que o reconheceu, ficou completamente corada. Sebastian caminhou até onde ela ficando a centimentros do seu rosto. Sua respiração irregular contra o rosto dela, seus ombros caídos, sua gravata frouxa. - Onde você estava? Mabelly imediatamente levou suas mãos ao pescoço do rapaz e arrumou-lhe a gravata, o fez também arrumar os ombros. - Sabe que não pode ficar assim. Ele suspirou. - Onde está o seu anel?

Ela baixou as mãos no mesmo instante. A cabeça as seguiu. Sebastian estava muito próximo, mas não passava nenhuma sensação de proteção, como costumava passar. - Eu não sei. Acho que o esqueci sobre a cama, ou a mesa... Vou procurá-lo lá em cima se me der licença...

Bastian suspirou novamente. - Agora além de fugir dos seus compromissos, você também aprendeu a mentir, Mabelly? Ele retirou o anel do bolso e o mostrou a ela estendido na palma da mão. - Onde você o encontrou? Achei que o tinha perdido! Ela parecia muito feliz em ver novamente aquele objeto e tentou pegá-lo. Sebastian parecia impassível e fechou a mão. - Eu menti a todos por você, e você sabe que odeio mentiras. Perdi pontos por não ter ido à missa e ao jantar e perdemos ordens importantes também. Tudo por culpa dessa sua maldita saidinha! Que espécie de garota você está se tornando, Mabelly?! Espero que esteja satisfeita agora, você quase estragou tudo para nós dois!

Apesar das palavras cruéis, ela sabia que no fundo Sebastian só estava preocupado e cansado. Ele permaneceu estático e atirando sua respiração pesada contra o rosto dela. Com certo medo da reação dele, ela estendeu seus braços ao redor da cintura do rapaz e o abraçou. Teve a mesma sensação de estar abraçando um estátua. Ele não relaxou, não moveu um músculo para retribuir o abraço. Após alguns minutos de constrangimento, Mabelly o soltou. Ele pegou sua mão direita ainda no ar e colocou o anel ali.

- Tudo já está no seu lugar, Mabelly, correndo como deve correr. Não estrage tudo com seus defeitos. Você não precisa de nenhum deles; E beijando o dorso da mão da garota com seus lábios frios, ele a deixou à meia luz da sala vazia, subindo as escadas.
07


Mabelly sabia que estava tarde, mas ela realmente não queria deixar os lábios de Allan. Contudo, precisava. Relutante, ela lhe pediu que Allan a deixasse em casa e ele quase recusou, se não soubesse que ela não fazia idéia de como iria sair dali. Ele foi lá dentro e pegou a bolsa dela. Nicole parecia ocupada demais no quarto com Mike, a julgar pelo som, então ele preferiu não incomodar. Mabelly apareceu na porta para pegar sua bolsa, foi até a cozinha beber um pouco d'água e beijar a bochecha de Coraline.

Saíram pela porta e Allan deu a volta no carro para o lado do motorista. Mabelly estranhou, estava acostumada com alguém abrindo a porta do carro para ela. Então pegou seu jeito na maçaneta e sentou-se sem graça. Percebendo aquilo o rapaz começou: - Que tal um jogo, Belly? A menina o olhou. - Você não vai roubar, certo? Ele riu e continuou: - Não, prometo. É até bem simples sabe? Eu digo uma coisa sobre mim e você faz o mesmo, mas sobre vcê mesma. Quero te conhecer melhor...

Mabelly o olhou desconfiada, mas fez que sim com a cabeça. Allan riu.
- Eu começo. Hm, vejamos. Allan Gregori Cooper, 23 anos.
- Mabelly Thernardier, 17 anos. 
- Você é francesa.
- E você não tem nada de Gregori.
- Ah, isso está errado.
- Você que errou.
- Vamos continuar... Me formo em Direito ano que vêm.
- Pretendo cursar Direito ano que vêm.
- Você já conhece minha casa...
- E você não pode entrar na minha.
- Isso não é justo...
- Eu moro com meu noivo.

O carro parou aos poucos, enquanto o jogo parecia morrer com aquela declaração. Allan olhou à mansão a sua frente riu. - Pelo visto ele é bem rico, acho que já sei porque você vai se casar... Mabelly o olhou muito ofendida e abriu a porta do carro: - Você não sabe de nada. Allan saiu também, segurou-a pelo braço e tentou beijá-la. A menina esquivou-se e deu-lhe um tapa no rosto. Virou-se e caminhou até a porta.

Quando ele a viu entrar e ia chutar uma pedra do cascalho, observou um papel amassado no chão. Caminhou para o carro e só o abriu algumas esquinas depois. Numa caligrafia perfeita, ele pode ler:

"Obrigada por tudo isso.
Meu celular está anotado na porta da sua geladeira.
Desculpe a bagunça com o batom, não foram feito para escrever.
Atenciosamente,
M."
06


- Você o ama? Allan observou sua voz cortar o silêncio após o beijo. Seus lábios ainda estavam muito próximos aos dela e ele queria permanecer ali o tempo que pudesse. Mabelly parecia desconcertada, cogitando o que era beijar um rapaz quando se está noiva... Allan não se importou muito com aquilo. Pouco lhe importava o noivo dela.

Na verdade, ele ainda não se sentia capaz de acreditar. Mabelly deveria ter dezesete anos, não fazia o menor sentido já estar noiva, e nem mesmo Nicole parecia saber. Havia algo de muito errado em tudo aquilo. Ele esperou sua resposta, que não veio logo.

Seu coração pulsou forte. Ele sabia que aquilo era um não silencioso e sorriu. Até que ela resolveu falar: - Não é uma questão de amor... Ele lhe beijou novamente. - E é uma questão de quê? Mabelly não o olhava nos olhos. Ele pegou seu queixo e a fez olhar: - Casamentos são sim uma questão de Amor. Eles não são só contratos, são escolhas de futuro, de vida. Você não se casa com qualquer um. Casa-se com alguém que te ame e que te faça bem. Com quem você queira estar a vida inteira. 

Aquelas palavras pareciam socos no rosto da moça.
- Você não vai entender, Allan.
- Eu posso tentar...
- Eu não sei explicar.
- Tente.
- Allan, entenda: eu vou me casar com ele, porque as coisas tem que ser assim. Ponto final.

Ele sentiu o quão severas eram aquelas palavras. Mabelly não parecia ter qualquer espécie de escolha e também não lutava contra aquilo. Como ela podia deixar simplesmente acontecer? Ela era a pessoa mais inteligente que ele já havia conhecido - sabia disso mesmo em tão pouco tempo - dona de opiniões concretas sobre quase tudo. Mas, iria se casar com um cara que não amava porque era assim que tinha de ser?

- Eu não entendo.
- Eu disse que não iria.
- Belly, por favor... O que está acontecendo? Porque você precisava fazer isso? Ele está te ameaçando? Porque se for, posso ir lá e dá um jeito nisso...
Agora foi a vez dela lhe calar com um beijo. E outro, e outro. Allan sabia que ela iria fazer aquilo até ele desistir da idéia. Mas, ele não pretendia desistir.

- As coisas não precisam ser assim, Belly... Você pode lutar contra. Você tem livre arbitrio. 
-  Tenho o quê?
- O direito de escolher seu futuro! Com quem você vai se casar, por exemplo.

Ela parecia espantada, como se ele tivesse lhe dito algo realmente novo. Allan estranhou. Que pessoa poderia ser aquela menina, afinal de contas? Havia algo muito errado em tudo aquilo. Só então ele pode entender: Mabelly não era uma menina qualquer. Havia muito por trás daquela máscara de perfeição que ela sempre montava. Porque ela se esquivava de abraços? E porque sempre falava tudo como se fosse um teste de gramática oral? E que especie de festa ela iria com aqueles trajes num domingo qualquer do mês?

E especialmente: porque ela iria se casar justo agora...
Que ele sentia que estava apaixonado por ela? 
05


Após vencer três partidas, mentir quatro vezes para Mike dizendo ser impossivel alguém como ela está enrolando no jogo e rir até a barriga doer das discursões de Coraline e Nicole sobre o nome do bebê, Mabelly quase sentia-se em casa. Uma estranha sensação de que sempre pertenceu aquele lugar lhe invadiu, mas ela sabia que estava longe de estar no lugar onde deveria. Mesmo assim, não deixava de sentir-se bem com tudo aquilo.

Allan estava agora deitado em seu colo, brincando com seus dedos. Ele observava suas unhas perfeitamente pintada e lixadas e a textura macia contra a luz. - Deve ter demorado um bocado para fazer todos esses desenhos. Você que fez? Mabelly observou-lhe os olhos e balançou a cabeça negativamente. Havia ficado o dia inteiro arrumando aquilo tudo aquilo num salão para a noite que deveria estar agora. Ela prendeu uma pequena risada. Era tão bom não precisar preocupar-se com nada pelo menos uma vez.

Ele levantou-se sem entender o motivo da risada dela e puxou-lhe pelo braço. - Vamos lá na cozinha comigo, Belly... Preciso beber algo. Mabelly o observou puxando-a para o corredor meio escuro e deixou-se levar, mesmo sentindo uma estranha sensação de que não o deveria fazer. Mas, após aquelas horas, ela sentia que deveria confiar no rapaz. Só não conseguiria explicar porquê.

Tateando a parede atrás de um interruptor e cruzando seus dedos aos de Mabelly enquanto o fazia, Allan era iluminado pela pouca luz que vinha da sala de estar. Ali na cozinha, uma janela havia sido esquecida aberta, também iluminando um pouco o local. Mabelly caminhou até ali descruzando seus dedos dos do rapaz que abriu a porta da geladeira e procurava por alguma coisa, após constatar que a luz ali havia queimado.

Recostou-se ali no para-peito. O céu estava escuro e pingado por algumas estrelas. Era noite de lua nova. Ali do quarto andar, Mabelly sentiu que poderia tocar a copa da árvore à alguns metros. Nesse instante, sentiu seu corpo sendo coberto por outro. O queixo de Allan agora recostava na curva do seu pescoço enquanto as mãos dele envolviam sua cintura, ela podia sentir uma garrafa gelada contra seu corpo.

Esquivou-se um pouco, mas ele não recuou. Ele soltou uma das mãos de sua cintura, a mesma que segurava uma garrafa de cerveja, e desprendeu o que restava daquele penteado bonito que já estivera nos cabelos da menina. Cheirou suas madeixas e deixou-se perder o rosto entre os fios por alguns instantes. Depois levou seus lábios ao pescoço da menina e deu-lhe alguns beijos. Mabelly lançou a cabeça para trás e fechou os olhos, tudo que predominava em seu pensamento era o quão errado e o quão bom aquilo poderia ser ao mesmo tempo.

Allan percorreu o pescoço todo da menina, girando o corpo dela até que sua boca estava em seu queixo e a cintura dela de frente à sua. Ele percorreu ainda sua bochecha até chegar em seu ouvido, enquanto suas mão prendiam-se nas costas da menina. Mabelly estava com os pêlos do braço eriçados e aproveitando cada um dos espasmos que percorriam seu corpo, até que um surto lhe percorreu. Ela abriu os olhos e disse na orelha próxima dele: - Estou noiva.

Por um instante, Allan parou. Depois ele cruzou mais ainda seus braços nas costas de Mabelly e a abraçou, recostando sua cabeça novamente na curva do pescoço dela. - E onde está seu anel de noivado? Ele perguntou baixo demais, com a voz decepcionada.

Mabelly levou a mão direita até onde seus olhos pudessem vê-la e só então percebeu a ausência. Saiu-se do abraço do rapaz e com os olhos muito assustados e correu para a sala, onde procurou pelo chão, em um desespero silencioso. Todos à observaram. Allan voltou da cozinha tomando um gole longo da garrafa e recostando-se na parede. - O que você está fazendo, Belly? perguntou Nicole, tirando a boca da do moreno musculoso. - Perdi um anel... Ela respondeu com simplicidade. - De noivado. O dela. Allan completou com um tom ácido, recebendo de Mabelly uma desaprovação.

Todos observaram Mabelly por alguns instantes. Nicole parecia ter levado um soco: - NOIVA?! Como assim Mabelly está noiva? De quem? Mabelly não parou de procurá-lo enquanto lançava um olhar significativo à amiga. Nicole entendeu e não podia acreditar: - E você está ficando louca?! Vocês nunca nem namoraram, como assim vão se casar?! Porque você vai casar com aquele nerd-tapado-e-metido, Belly?! Por favor, me responda!

Mabelly observou o desespero da amiga e quis chorar. Ela queria poder explicar para Nicole, mas não poderia. Ela jamais entenderia. - Ajude-me a procurar, sim? Coraline levantou-se observando o seu anel em seu dedo e parecendo saber exatamente como Mabelly estava se sentindo, começou a ajudá-la a procurar. Todos seguiram seu exemplo, menos Allan. Após revirarem a casa sem nenhum sucesso. Mabelly saiu porta afora procurando pela escadaria.

Allan a seguiu preguiçosamente até encontrá-la no segundo lance. - Você não chegou aqui com ele; declarou com simplicidade. - E porque você não me contou antes?! Mabelly lançou um olhar desentendido para ele. - Porque eu preferia acreditar que você estava me dando um fora bem bolado, à acreditar realmente que você vai se casar.

Ela o observou. Depois recolheu o vestido e sentou-se no chão, abaixando a cabeça: - Não é bem uma decisão minha, Allan... Desculpe se eu lhe magoei, não era minha intensão, juro. Allan foi até lá e sentou-se ao lado dela. Levantou o queixo dela com o dedo indicador, a fez olhar nos seus olhos e sorriu com simplicidade. Ela tentou sorrir também, sem muito sucesso, mas com muita intensão. Depois ele lhe beijou nos lábios.

E ela o correspondeu.
04

Matthew caminhava furioso por todos os lados daquela sala. Em seus olhos via-se uma furia homicida. Sebastian estava sentado numa poltrona observando o anel contra a luz, suas pernas cruzadas elegantemente. - Matthew, por favor, sente-se; disse num tom de poder, com sua voz baixa, porém grave. O louro olhou o rapaz com desprezo e lançou: - Como você pode ficar tão calmo assim, Sebastian? Mabelly acabou de fugir num carro de loucos! Como vamos explicar para Eles o porque de ela não ir a missa conosco agora?!

Sebastian continuava muito encantado com o brilho do anel, particularmente com a pedra de diamante que faiscava. - Diremos que ela está doente e que precisei ficar em casa, em seus cuidados. É completamente aceitável. O louro observou os olhos pequenos do amigo lhe fitando. Era realmente uma boa desculpa. - Você vai acobertá-la? Sebastian fez que sim com a cabeça, guardando o anel no bolso. -Mas, ela vai precisar ter uma boa explicação pra me dar.

Naquele instante, todos os outros começaram a descer a escada. Meninas de vestidos bonitos e rapazes de terno e gravata pareciam animados, mas não falavam nada. Estavam em silêncio, concentrados. Passaram por Matthew e Sebastian e seguiram para a porta, onde tomariam seus respectivos carros. Matthew ofereceu o braço a Annemary quando ela passou. Ela lançou um olhar inquisitor à Sebastian e ele lançou a desculpa bolada. Rapidamente Anne entendeu e disse: - Ah sim! Espero que ela melhore logo... Agora é hora de irmos Matt, ou chegaremos atrazados. Aviso a Eles sobre vocês. Até logo, Bastian.

O oriental sorriu a moça e de modo significativo à Matthew, que se retirou sem dizer uma palavra, ainda carrancudo. Sebastian estava sozinho agora. Observou a sala que agora estava mal iluminada e suspirou. Onde diabos Mabelly estaria? E porque ela havia feito aquilo? Não parecia em nada com o que era típico dela.

Ele subiu a longa escadaria afrouxando a gravata, para depois arrumá-la novamente olhando pors lados desconfiado. Foi até o quarto de Mabelly e adentrou. Observou o local e sentiu o cheiro do perfume que ela passara antes de sair. Era seu preferido. Ele nunca havia dito, mas de fato era. Sentou-se na cama de dorsel da moça e suspirou novamente. Nenhum bilhete, nem mesmo uma pista de onde ela poderia estar.

Sacou o celular do bolso e discou o número da menina, o único que realmente sabia de cor, além do seu. Chamou até cair a ligação. Ele tentou novamente. E denovo. Após a quinta vez, acabou desistindo. Ela não iria lhe atender. Uma pequena furia começou a brotar por seus olhos. Ele saiu do quarto à pés pesados e sentou-se novamente na mesma poltrona. Uma hora ela teria de voltar para casa.
03


Ainda precisou de alguns minutos para conseguir controlar o próprio sorriso e acalmar o pulso forte. Sorria para todos dentro do carro enquanto lhe eram apresentados. Esqueceu o nome de todos depois de ter sido pronunciado, mas apertou a mão de todos e ganhou beijos na bochecha. Depois recebeu uma bronca animada da loura: - Porque diabos você demorou tanto? Nós já íamos te deixar!

A menina sorriu e tentou explicar com sua voz baixa demais para sobressair às outras conversas: - Eu não posso sair no domingo; Ela gesticulou para os próprios trajes e sentiu uma pitada de vergonha na ponta da língua. Aquele vestido demasiado caro não era apropriado para estar sentada no colo de um estranho dentro de um carro apertado e lotado. Ela tentou arrumá-lo ao corpo o máximo que conseguisse, o que não foi muita coisa. A loura riu com muito prazer: - Não acredito! Então acabei de sequestrar a senhorita perfeitinha? Eles vão me matar! E ela parecia realmente deleitada com tudo aquilo. A menina sorriu delicada, mas com um pouco de preocupação: A morta no dia seguinte não seria a loura, mas sim ela mesma. O engraçado é que - naquele momento - não estava nem um pouco incomodada com isso.

- Pra onde estamos indo? Perguntou alguns minutos depois, tentando esconder - sem muito sucesso - as próprias pernas da mão do motorista que brincava com a morena ao seu lado. - Jogar baralho na casa do Allan.

A menina tomou uma mecha do longo cabelo entre os dedos e observou-a, enquanto sua bolsa repousava em seu colo, parecia preocupada. A loura lhe deu um abraço gentil e disse: - Relaxa, nós não vamos fazer nada demais e vamos te entregar inteira em casa...

O carro parou alguns minutos depois. Foi engraçado ver oito pessoas saindo daquele lugar, todas completamente animadas e sorrindo com o vento. O suposto Allan enquanto retirava um molho de chaves do bolso e tentava abrir a porta de entrada do prédio. A loura foi pega no colo pelo rapaz musculoso e levada para dentro junto com os outros.

Restou lá fora apenas Allan segurando a porta e a menina arrumando seus trajes, sem mexer um dedo para adentrar ao local. - Ei... Pode ficar à vontade por aqui. Ela observou onde estavam, parecia um conjunto de apartamentos do outro lado da cidade. Um bairro de estudantes, talvez. Não fazia idéia de como se voltava pra casa.

Só então observou o rapaz sorrindo caloroso para ela e deu alguns passos para frente. Era falta de educação deixá-lo esperando e ela não tinha mesmo pra onde ir (bem, nenhum lugar onde realmente quisesse ir pelo menos)... Ele lhe segurou pela cintura e fechou a porta atrás de si. - Qual é mesmo o seu nome? Perguntou-lhe ao pé do ouvido, abraçado com ela enquanto os dois subiam um lance de escadas. - Mabelly. Ela disse insegura e desvencilhando-se do abraço dele. Não estava acostumada com abraços de estranhos. Ele estranhou a principio, mas não disse nada. Apesar sorriu.

Quando alcançaram a porta do apartamento do rapaz, tudo já parecia pronto. Todos estavam deitados ou sentados em colchões estendidos pelo chão ou no sofá surrado. Os rapazes caminhavam por um corredor que parecia levar a cozinha, trazendo consigo um real estoque de bebidas. Um deles ficara para distribuir as cartas no chão e sorria com uma delas pendurada na orelha, possivelmente imitando aqueles jogadores profissionais.

Allan puxou Mabelly para um dos colchões no chão ao seu lado e a fez se sentar, entregando-lhe uma almofada azul-escuro para cobrir o vestido curto. Ele pegou uma garrafa de cerveja, tragou um gole e sorriu de um jeito animado anunciando: - Mabelly será minha parceira. A loura - que antes parecia bem ocupada sendo abraçada pela cintura por um moreno musculoso - riu com deboche: - Mabelly vai jogar? Quero até ver isso! Vamos Mike, também quero jogar...

A morena de cabelos cacheados cujo nome Mabelly esforçava-se agora para lembrar sorriu para os outros rapazes. Um deles a convidou, mas ela disse que estava bem ali sentada no sofá. Mabelly a observou por alguns instantes e notou uma pequena protuberancia em sua barriga. Apesar dos braços finos e da pouca idade, ela pode perceber que havia algo errado em sua barriga, especialmente porque agora ela desabotoara o jeans e abrira um pouco do ziper, para deixá-la mais confortável talvez. Ela estava grávida.

Estranhamente, Mabelly a observou sorrir quando o seu olhar inquisitor e espantado. Uma cor rubra aprofundou-se nas bochechas dela e a morena disse: - Quatro meses. Ela colocou a mão sobre a barriga e acariciou com ternura. Mabelly observou aquilo com inquietude.

Onde morava e pelos princípios em que havia sido criada, gravidez tão jovem era um sinal de perdição. Meninas como Mabelly jamais poderiam se arriscar de tal maneira, visto que seu futuro era tão promissor. Aquela menina era solteira? Tinha um emprego? O pai assumiria o filho? Quantos anos ela poderia ter, se não dezessete ou dezoito? Os olhos verdes-escuro de Mabelly miraram todos ao redor.

Ninguém parecia incomodado com todas as dúvidas que pairavam por sua cabeça. Será que ela era a única pessoa virgem naquele local? Fra sua próxima pergunta silenciosa. Ao que tudo indicava, sim. De repente ela sentiu-se mais descolada do que mais havia sentido. Todos ali bebiam, jogavam e pareciam completamente libertinos uns com os outros sem que isso incomodasse ninguém. Mabelly não sabia como agir, nem o que falar, ou sobre o que aquela pessoas falavam.

Nunca havia estado tão perdida em meio à tantos desconhecidos.

Allan puxou-a pela cintura quando a viu baixar a cabeça e disse em seu ouvido: - Hey, relaxe sim? A Coraline vai casar mês que vêm, a mãe dela quer matá-la e o pai matar o Matthew, mas eu acredito que eles serão felizes juntos. Mabelly voltou seus olhos para ele. Então alguém havia entendido seus motivos? Alguém havia prestado atenção em suas dúvidas não pronunciadas? E como ele pode adivinhar o que ela estava pensando? 

Sorrindo com simplicidade, Allan virou-se para pegar as cartas que agora era suas. Mabelly o observou por alguns instantes. Ele tinha os braços musculosos, a pele num tom perfeito de bronzeamento e os olhos escuros e intensos, além de um sorriso cheiro de dentes brancos. Seus cabelos crespos estavam escondidos por um boné. E ele era incrivelmente bonito. Mabelly parou alguns instante observando seus lábios carnudos e imaginando a sensação de tocá-los com os dedos.

Então ele virou-se para ela, ainda sorrindo e disse em seu ouvido novamente, num tom mais grave: - Você sabe jogar isso? Ele mostrou-lhe o baralho discretamente. Ela balançou a cabeça com sinceridade. Não fazia idéia de como se jogava aquilo. - Imaginei... Bem, faça o que eu mando, certo? Mas especialmente: fique de olho no baralho do Mike.

Mabelly o observou por alguns instantes. Então era isso? Enrolação? Ela gostou menos do rapaz naquele instante, mas só então percebeu a emoção que poderia ser roubar no jogo. Ela nunca havia feito aquilo. Com discrição, ela percebeu que poderia olhar todas as cartas de Mike. Um pequeno sorriso maldoso cortou seus lábios e ela sentiu uma adrenalina forte pulsar suas veias. Aquilo poderia ser divertido, afinal de contas.
02 


Ela sequer notou que um anel havia caído do seu dedo, e agora estava rolando pelo cascalho em direção ao esgoto. Se ficasse muito tempo por ali seria arrastado pela lama da chuva. Foi apanhado minutos depois por um rapaz alto, trajando terno e gravata. Ele tinha os ombros largos e um inconfundível traço oriental nos olhos e nos cabelos. Rolou o anel de ouro branco e diamantes entre os dedos, enquanto tinha as costas fuziladas pelos olhares dos visinhos curiosos e observava o local onde o carro estranho estava há pouco tempo. Tirou os óculos de aro muito fino do rosto e apertou a área entre os olhos, um visível sinal de incomodo.

- Pra onde diabos ela foi? Disse uma voz conhecida colocando a mão no ombro do rapaz, um sinal de que ele deveria colocar os óculos no rosto e voltar à postura ereta, o que foi feito automaticamente. Falou tão baixo que apenas ele poderia ouvir. O novo rapaz olhou-o com seus inconfundíveis olhos castanho-claro e bagunçou levemente os fios louro-escuro do próprio cabelo. Parecia profundamente furioso, apesar da máscara de tranqüilidade que tentava montar. O rapaz oriental não disse nada, apenas colocou o anel nos bolsos, enquanto também deixava as duas mãos ali, girou os calcanhares em direção à mansão e caminhou até encontrar a porta, sendo seguido pelos calcanhares pelo outro rapaz, mas não antes de sorrir levemente e dar boa noite aos visinhos confusos. - Eu vou matá-la! disse o louro assim que fechou a porta atrás de suas costas.

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"Afinal, quem era ela? Já nem sabia responder. Não que já tenha conseguido de um bom modo, mas pelo menos ela tinha alguma idéia. Agora nem isso. Não passava de uma metamorfose diária e adaptável ao meio." - O Tempo, a Casa e a Essência. http://t.co/QvNc7cj