- Você o ama? Allan observou sua voz cortar o silêncio após o beijo. Seus lábios ainda estavam muito próximos aos dela e ele queria permanecer ali o tempo que pudesse. Mabelly parecia desconcertada, cogitando o que era beijar um rapaz quando se está noiva... Allan não se importou muito com aquilo. Pouco lhe importava o noivo dela.
Na verdade, ele ainda não se sentia capaz de acreditar. Mabelly deveria ter dezesete anos, não fazia o menor sentido já estar noiva, e nem mesmo Nicole parecia saber. Havia algo de muito errado em tudo aquilo. Ele esperou sua resposta, que não veio logo.
Seu coração pulsou forte. Ele sabia que aquilo era um não silencioso e sorriu. Até que ela resolveu falar: - Não é uma questão de amor... Ele lhe beijou novamente. - E é uma questão de quê? Mabelly não o olhava nos olhos. Ele pegou seu queixo e a fez olhar: - Casamentos são sim uma questão de Amor. Eles não são só contratos, são escolhas de futuro, de vida. Você não se casa com qualquer um. Casa-se com alguém que te ame e que te faça bem. Com quem você queira estar a vida inteira.
Aquelas palavras pareciam socos no rosto da moça.
- Você não vai entender, Allan.
- Eu posso tentar...
- Eu não sei explicar.
- Tente.
- Allan, entenda: eu vou me casar com ele, porque as coisas tem que ser assim. Ponto final.
Ele sentiu o quão severas eram aquelas palavras. Mabelly não parecia ter qualquer espécie de escolha e também não lutava contra aquilo. Como ela podia deixar simplesmente acontecer? Ela era a pessoa mais inteligente que ele já havia conhecido - sabia disso mesmo em tão pouco tempo - dona de opiniões concretas sobre quase tudo. Mas, iria se casar com um cara que não amava porque era assim que tinha de ser?
- Eu não entendo.
- Eu disse que não iria.
- Belly, por favor... O que está acontecendo? Porque você precisava fazer isso? Ele está te ameaçando? Porque se for, posso ir lá e dá um jeito nisso...
Agora foi a vez dela lhe calar com um beijo. E outro, e outro. Allan sabia que ela iria fazer aquilo até ele desistir da idéia. Mas, ele não pretendia desistir.
- As coisas não precisam ser assim, Belly... Você pode lutar contra. Você tem livre arbitrio.
- Tenho o quê?
- O direito de escolher seu futuro! Com quem você vai se casar, por exemplo.
Ela parecia espantada, como se ele tivesse lhe dito algo realmente novo. Allan estranhou. Que pessoa poderia ser aquela menina, afinal de contas? Havia algo muito errado em tudo aquilo. Só então ele pode entender: Mabelly não era uma menina qualquer. Havia muito por trás daquela máscara de perfeição que ela sempre montava. Porque ela se esquivava de abraços? E porque sempre falava tudo como se fosse um teste de gramática oral? E que especie de festa ela iria com aqueles trajes num domingo qualquer do mês?
E especialmente: porque ela iria se casar justo agora...
Que ele sentia que estava apaixonado por ela?
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